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Ensaio sobre a cegueira. Dilma caiu, mas é bom abrir os olhos...

Por: Franz Lima. Curta nossa fanpage: Apogeu do Abismo. #apogeudoabismo.

Esse texto aborda o tema que está mais em pauta no momento: o impeachment da Dilma. Bem, vamos a alguns fatos sobre isso.

Primeiro, a derrocada ainda não é definitiva. Dilma detém alguma influência na política, assim como o seu chefe Lula, e é bom ficar atento a essas prováveis intervenções que ela e seus aliados podem provocar.

A partir daí, tomadas algumas precauções, vamos observar as nuances do novo governo, agora na figura de Michel Temer. Temer é um político tão soturno quanto foi Ulysses Guimarães. Ele age de forma velada, silenciosa e esse impeachment é prova disso. Não vou desmerecer a carreira dele, mas está claro que suas atuações não foram as mais memoráveis na história da política. Isso, alerto, é um ponto preocupante não pelo apoio que ele terá como presidente. Tenho certeza que o apoio virá. O que provoca dor de cabeça é a gama de problemas (e o pouco tempo) para resolver. Não haverá mudanças miraculosas. Não haverá uma melhoria imediata, principalmente se os vícios do governo anterior permanecerem.

Antes da queda de Dilma, Temer anunciou medidas para conter despesas, incluindo a diminuição de ministérios. Ele oscilou e disse que manteria um número muito próximo do que disse primeiramente. Depois, reafirmou manter apenas 22 ministérios, algo que desagradou a bancada de apoio, ávida por poder.

Nesse contexto, algo precisa ser evidenciado: caso o governo Temer comece fazendo concessões em troca de apoio político, certamente ele perderá apoio popular. Sem o povo ao seu lado, algo já difícil devido aos apelos da política populista de Dilma, Temer não terá condições para manter-se até o final do mandato.  Isso se dá não pela força do povo (desprezada pelos políticos), mas por medo dos que estão no poder em chamar a atenção da população de modo negativo. Tudo que vimos até hoje, incluindo a cassação de Cunha, o impeachment de Dilma e a perda do mandato de Delcídio são manobras para “mostrar serviço” e dar uma satisfação à opinião pública e ao mercado externo.
A nova lista dos ministros de Temer já causa polêmica, principalmente por conta de pessoas indiciadas na Lava-Jato. São eles: Romero Jucá, Henrique Alves (ex-ministro do Turismo no governo Dilma) que foi citado e teve seu processo arquivado, Eliseu Padilha-  quando ministro de FHC, foi alvo de acusações de irregularidades no pagamento de precatórios, mas sempre negou - , Geddel Vieira citado na Lava Jato sob suspeita de negociar propina com a OAS, o que ele nega. Sarney Filho é um mafioso tão poderoso quanto o pai, um político retrógrado que segue a cartilha de sua família. A indicação de Ilan Goldfajn (Ex-diretor do BC e atualmente economista-chefe do Itaú) me traz preocupação por proporcionar a ligação de um banco privado com o BC, já que não há garantias de distanciamento real entre Ilan e o Itaú. Leonardo Picciani é outra preocupação, já que ele foi um dos apoiadores do governo Dilma e estava publicamente contra o impeachment. O caso Picciani é bem similar à adoção do filho de alguém morto por você. Pode parecer um gesto bonito, porém não há garantias de que o rancor e a vingança não estejam instalados no coração desse órfão que, nesse caso, é Picciani.

A política é uma prática que merece atenção por mudar destinos. Muitos sucumbem diante de governos corruptos, manipulados e omissos. Somos vítimas de décadas de descaso em áreas básicas como saúde, educação e segurança. Temer terá uma luta difícil pela frente, principalmente se ceder às pressões dos que querem mais poder.

Ficarei atento dias que se seguem, pois a queda de Dilma não é sinônimo de sepultamento dela ou de seus asseclas. A ideologia populista está em alta por termos passados anos e anos sem qualquer atenção real aos pobres e aos que estão à margem. Dilma ludibriou, à custa do dinheiro público, os que precisavam de apoio e deu pequenas vantagens. Ela enxergou no populismo uma forma de se manter em alta após sua “desvinculação” de Lula. Estratégia correta até o ponto em que as falcatruas do governo (e da grande maioria dos políticos) veio à tona.

Temer deve ser inteligente a ponto de fazer um bom governo nos meses que lhe restam. Caso o faça, certamente terá força para tentar a eleição ou, na pior das hipóteses, indicar quem o suceda. Essa é a chave do problema. Afinal, melhorias breves podem servir de pão e circo para que sejamos levados a crer em um novo governo que irá solucionar os mais graves problemas do país. Só há um adendo: Temer era parte do problema enquanto vice-presidente. Ele não é inocente e não está aliado a inocentes para que dediquemos nossa confiança plena a ele.

É hora de vigiar e lutar por um Brasil melhor. 

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