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Tá tranquilo, tá favorável?

Por: Franz Lima. Curta nossa fanpage: Apogeu do Abismo

O sucesso de outras pessoas nunca me incomodou, principalmente os passageiros. O que me incomoda são as sequelas desses modismos.
Para começar, vamos relembrar da mais conhecida frase do personagem Seu Boneco, da Escolinha do Professor Raimundo: "- Essa eu respondo des costas!" . Pode parecer brincadeira, mas a divulgação foi tanta que ainda há pessoas que usam a expressão des costas como algo correto. Isso é preocupante, principalmente se considerarmos que estamos em um país (Pátria educadora) com uma qualidade baixa na educação. Há poucos incentivos para que o aprendizado ocorra bem, ao passo que as futilidades ganham espaço e importância na vida das crianças e jovens em formação.
A música teve um papel fundamental na mentalidade de gerações. Bossa Nova, jazz, samba, rock e outros estilos foram importantíssimos para o aprimoramento do caráter de incontáveis pessoas. Sabem o motivo para isso? Qualidade. As músicas eram muito mais elaboradas, tinham um conteúdo que levava o ouvinte a pensar, refletir sobre sentimentos e situações que iam desde o simplório até discussões políticas.
Infelizmente não temos mais tanta preocupação quando o assunto é composição musical. Letras enfadonhas, repetitivas e de curtíssima duração são algo perceptível há décadas. Parece que não há mais motivação para escrever bem. Além disso, as músicas com repetições, do tipo "jingles" são as que mais agradam ao gosto popular. E isso não está restrito ao funk, já que gêneros brasileiros como axé e pagode também caíram em qualidade. 
Um dos atuais expoentes é o hit Tá tranquilo, Tá favorável onde, basicamente, o funqueiro repete essas quatro palavras à exaustão. Não tenho nada contra o funk e sei que existem músicas deste tipo que acrescentam algo ao ouvinte, mas essa em particular não passa de um modismo que, inevitavelmente, estará fadada ao esquecimento. Então, o leitor irá se questionar, por que tanta preocupação com algo com data de validade a sumir da mídia? Simples. A música incita quem a ouve a minimizar tudo que está ocorrendo no mundo, além de fazer uma clara apologia à corrupção pelo dinheiro. Tem dinheiro? Então, terá as bandidas (mulheres), carros de luxo, motos e vida boa. Isso sem contar que há uma alusão ao crime, já que a quadrilha (que não é de festa junina) estará reunida para curtir os pacotes de 100 reais e ter as mulheres que o dinheiro puder comprar. Afinal, só "os vilão vem".
Ok, você não se importa com essa pequena apologia ao crime, à prostituição e à evidente raiva contra os "playboys", já que se trata apenas de um videoclipe. Mas é com pequenos detalhes como esses que as más ideologias vão sendo implantadas no inconsciente popular. É pela simplicidade e repetição, que as massas vão tendo seus pensamentos e comportamentos moldados, deturpados. Isso sem sequer abordar outro fato importante: a realidade da imensa maioria dos brasileiros está anos-luz distante do Chandon, dos cordões de ouro, carros de luxo e mulheres lindíssimas. Não há nada de tranquilidade em viver estagnado em uma realidade que só mudará com esforço e estudo. Não há nada favorável para quem está em uma fila de emprego que, ao final, resultará (se Deus quiser) em um salário mensal de menos de mil reais.
Quem divulga essas mensagens de prosperidade fácil, vida desregrada e luxo a todo custo é muito mais inteligente do que aparenta. Tais pessoas mantêm o povo sob controle em uma aparente tranquilidade. Essa é a antiga política do pão e circo. Dê o mínimo de sustento e diversão para manter a população na inércia. 
Interessante que ninguém se manifestou sobre a escolha do nome artístico, MC Bin Laden. Uma ode a um terrorista que tem incontáveis mortes nas costas. Será que em breve teremos um MC Hitler? Ou a DJ Von Richthofen? 
Agora, eu pergunto: está tranquilo e favorável para quem?





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