Pular para o conteúdo principal

Penadinho: vida. Análise da sétima Graphic MSP.


Por: Franz Lima

Cada nova edição do selo Graphic MSP é uma surpresa das mais agradáveis. Com "Penadinho: Vida" não poderia ser diferente.
A sétima edição do selo de Mauricio de Sousa para produções diferenciadas dos personagens da Turma da Mônica é de um primor indiscutível. E não pensem que foi algo simples de ser feito. A história envolve não só os personagens mais suscetíveis às críticas (a turma do Penadinho) dada a atual crise existencial do ser humano que prefere atacar a analisar, principalmente no campo religioso, como também leva o leitor a meditar sobre dois temas bem complexos: o amor e a reencarnação. Não falei que a trama era muito complexa?


Vida

Esse é o tema central da narrativa. Vida em seu estado mais puro, ainda que seja após a morte. Com personagens amados (e também vistos com maus olhos por alguns extremistas) como Zé Vampir, Muminho, Cranícola, Dona Morte, Penadinho, Lobi, o casal responsável pela obra, Paulo Crumbim (roteiro) e Cristina Eiko (desenhos) conseguiu criar uma história que, apesar de lidar com monstros lendários cujas vidas são fruto do sobrenatural, da ciência ou maldição, não deixam de ser personagens carismáticos. É impossível não criar vínculos com eles, pois toda a malignidade que os monstros originais têm são descartados quando abordados na turma do Penadinho.
Mas, definitivamente, o que dá ênfase a essa história é a luta de Penadinho para corrigir um erro de longa data. É o amor, mesmo após a morte, que traz 'vida' a essa narrativa. 


Alguns detalhes que irão abalar os extremistas

Mesmo sendo uma história de amor, há algumas nuances que irão irritar os mais exaltados no quesito religião. A presença de demônios ancestrais como Pazuzu (incluído até no filme O Exorcista) e Amaimon (um dos sete príncipes do Inferno), além da contagem para a brincadeira de esconde-esconde que termina no número 666 são brincadeiras que irão - indubitavelmente - fazer os mais exaltados se manifestarem. Entretanto, não há nada de sombrio nessas 'aparições', mas simples brincadeiras dos autores. 
Afinal, o que esperar de uma história onde o protagonista é um fantasma?

Cores e sombras

Os desenhos são um ponto forte da graphic novel. Mesmo com diferenças das tradicionais caracterizações de Mauricio de Sousa, o que já era de se esperar, a dupla Cristina e Paulo transformou o Penadinho e sua turma em algo surreal. Algumas imagens têm aspecto de mangá, outras parecem cenas de animação. No geral, o que podemos ver é um espetáculo de cores, luz e sombras onde o lado macabro de "Vida" ganha ares de algo amigável. Mesmo as cenas mais impactantes - como o surgimento da Dona Morte - receberam uma atenção especial por parte dos autores, fato que contribuiu para minimizar o impacto. Em resumo, essa é uma HQ que pode ser lida por adultos e crianças sem o menor temor.


Uma HQ para pensar.

Caso ainda não tenha lido as outras edições do selo Graphic MSP, vá correndo e adquira os demais títulos. O motivo? Todas, incluindo esta sétima edição do selo, ampliam com maestria o universo da Turma da Mônica. Em cada uma das graphics vocês irão se deparar com artes incríveis, roteiros consistentes, humor e um acabamento primoroso. 
Quanto a 'Penadinho: Vida', antes de ser uma história em quadrinhos ela é um exercício de reflexão. O trato com um tema tão controverso quanto a morte e a abordagem da permanência do amor no pós-vida, acrescidos dos problemas e conflitos característicos que tais temas trazem consigo, fizeram com que esta Graphic MSP seja uma das mais belas e introspectivas da série. 


Apuro para atrair os antigos e novos leitores.

Como nas demais edições do selo, a  Panini mostrou competência - sob o aval do próprio Mauricio de Sousa - e criou uma revista com um visual atraente, acabamento impecável, ótimo roteiro e arte belíssima. Outro ponto positivo está na inclusão dos bastidores da produção da obra, um pequeno making of com as particularidades do processo criativo da dupla. 
Ponto também por, mais uma vez, a editora disponibilizar a versão de capa cartonada e capa dura, possibilitando o acesso à revista com preços distintos. Mas é válido ressaltar que as edições só têm os materiais das capas diferentes, já que o conteúdo é o mesmo.

Spoiler. ATENÇÃO!!!!

Esta é uma história que marcará a mitologia por trás da turma do Penadinho. Não apenas podemos ver a declaração de amor do Penadinho para a Alminha como também testemunharemos a primeira aparição do Lobi... e de forma apoteótica. O mais importante, entretanto, está no foco da verdadeira amizade entre o grupo e as nuances de cada um. É muito divertido ver a inocência de Frank, o medo incontrolável do Muminho e a luta constante do Penadinho para declarar seu amor.
'Vida' também mostra que há um ponto de vista para cada situação. Os aparentes vilões escondem, no seu âmago, seres que querem o mesmo que a maioria de nós: liberdade e o amor. Mesmo tendo vilões demoníacos e um ser que tem poder suficiente para controlá-los, é possível ver que eles não são essencialmente malignos. 
Por fim, a presença da personagem Dona Cegonha traz um ar de esperança ao contexto da história. A possibilidade de um recomeço é algo, sempre, reconfortante.




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Bethany Townsend, ex-modelo, expõe bolsa de colostomia de forma corajosa.

Bethany Townsend é uma ex-modelo inglesa que deseja, através de sua atitude, incentivar outras pessoas que sofrem do mesmo problema a não ter receio de se expor. Portadora de um problema que a atinge desde os três anos, Bethany faz uso das bolsas de colostomia  que são uma espécie de receptáculo externo conectado ao aparelho digestivo para recolher os dejetos corporais, e desejou mostrar publicamente sua condição.  Quero que outras pessoas não tenham vergonha de sua condição e é para isso que me expus , afirmou a ex-modelo. Bethany usa as bolsas desde 2010 e não há previsão para a remoção das mesmas.  Eu, pessoalmente, concordo com a atitude e respeito-a pela coragem e o exemplo que está dando. Não há outra opção para ela e isso irá forçá-la a viver escondida? Jamais... Veja o vídeo com o depoimento dela. Via BBC

Suzane Richthofen e a justiça cega

Por: Franz Lima .  Suzane von Richthofen é uma bactéria resistente e fatal. Suas ações foram assunto por meses, geraram documentários e programas de TV. A bela face mostrou ao mundo que o mal tem disfarces capazes de enganar e seduzir. Aos que possuem memória curta, basta dizer que ela arquitetou a morte dos pais, simulou pesar no velório, sempre com a intenção de herdar a fortuna dos pais, vítimas mortas durante o sono. Mas investigações provaram que ela, o namorado e o irmão deste foram os executores do casal indefeso. Condenados, eles foram postos na prisão. Fim? Não. No Brasil, não. Suzane recebeu a pena de reclusão em regime fechado. Mas, invariavelmente, a justiça tende a beneficiar o "bom comportamento" e outros itens atenuantes, levando a ré ao "merecido" regime semi-aberto. A verdade é que ela ficaria solta, livre para agir e viver. Uma pessoa que privou os próprios pais do direito à vida, uma assassina fria e cruel, estará convivendo conosco, c

Pioneiros e heróis do espaço: mortos em um balão

* Há exatamente 100 anos subir 7400 metros, num balão, era um feito memorável. Consagrados por isto, três franceses - Sivel, Crocé-Spinelli e Tassandier - resolveram tentar uma aventura ainda mais perigosa: ultrapassar os 8 mil metros de altitude. Uma temeridade, numa época em que não existiam os balões ou as máscaras de oxigênio e este elemento precioso era levado para o alto em bexigas de boi com bicos improvisados. Uma temeridade tão grande que dois dos pioneiros morreram. Com eles, desapareceu boa parte das técnicas de ascensão da época que só os dois conheciam. Texto de Jean Dalba Sivel No dia 20 de abril de 1875, mais ou menos 20 mil pessoas acompanhavam à sua última morada, no cemitério de Père-Lachaise, os despojos de Teodoro Sivel e de Eustáquio Crocé-Spinelli - os nomes, na época da produção do artigo, eram escritos em português para facilitar a leitura e "valorizar" nossa própria cultura. A grafia correta dos nomes é Théodore Sivel e Joseph Eustache Cr