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O Concurso. Resenha da comédia com Danton Mello e Fábio Porchat.

Texto: Franz Lima.

A péssima impressão que os filmes nacionais tinham é coisa do passado. Hoje, felizmente, temos produções bem feitas com roteiros equilibrados. São muitas as empresas que apoiam tais produções nacionais, não apenas com base no abatimento do imposto de renda, mas pela divulgação que essas obras ganham. É inquestionável que o cinema brasileiro evoluiu. Entretanto há sempre uma ou outra lacuna que, claro, não desmerece a qualidade de nossos filmes.
Recentemente assisti à comédia O Concurso. Com um elenco de peso e uma produção muito boa, além de recomendações de todos os cantos, só me restava prestigiar a obra. Foi uma ótima decisão.
O Concurso é um filme despretensioso. Não espere encontrar uma comédia com ares de filme "cabeça", pois não encontrará. O que posso lhes garantir é um entretenimento muito bem feito, divertido e que mostra o quanto somos bons na arte do riso.
A história é focada em quatro finalistas ao concurso para Juiz Federal, cargo cobiçado, difícil de ser alcançado e extremamente exigente quanto aos requisitos para os pretendentes. Os quatro finalistas são pessoas de lugares diferentes do Brasil. Há um cearense religioso e casado (Freitas, interpretado por Anderson Di Rizzi), Rogério Carlos é um gaúcho gay e encubado (vivido por Fabio Porchat), um carioca malandro (Caio, fielmente interpretado por Danton Mello) e Bernardo, um paulista interiorano (Rodrigo Pandolfo). O início do filme já mostra o que virá a seguir, uma vez que os quatro entram para a prova oral da forma mais surpreendente possível. Um aparece de ambulância, outro vestido como travesti, o terceiro de moto com a namorada quase pelada e o quarto algemado e levado ao local pela polícia. A partir daí, a trama volta uma semana e passa a explicar os fatos que levaram a essa loucura total.


Li algumas críticas sobre os estereótipos dos personagens principais, porém não constatei nada que fosse capaz de afundar o filme. O carioca malandro, o homem do interior ingênuo, o cearense religioso e o gaúcho enrustido fazem parte de muitas piadas Brasil afora. Por que não poderiam ser usados na produção? 
Há passagens hilárias e marcantes. Também há outras que quebram um pouco do ritmo da trama, mas o balanço geral é de um filme realmente divertido e agradável. Acrescente a isso as participações especiais de Nelson Freitas, Pedro Paulo Rangel e outros atores que mesmo brevemente dão, literalmente, o "ar da graça".



Outro ponto positivo é a crítica social embutida nas piadas. O próprio fato de os candidatos usarem de artifícios para passar na prova oral já mostra que é possível fazer humor e alertar sobre algumas falhas no nosso país. Relembro, entretanto, que não se trata de uma obra voltada para a denúncia, mas para divertir. É entretenimento despretensioso, às vezes tendencioso para a sacanagem, mas atende ao que o espectador espera ao buscar um filme para se divertir.

Há trechos que podem não agradar por haver brincadeiras com anões, gays ou outras minorias, porém creio que seria muita hipocrisia discriminar um humor que é usado em piadas, programas de TV, revistas e outros meios de divulgação. 
Assista ao filme e divirta-se, desligando-se de lições de moral, preconceitos e outras cobranças que só seriam aceitáveis em uma produção mais séria. Ria... e curta O Concurso.


Dados Técnicos: 

Direção: Pedro Vasconcelos

Roteiro Leo Levis, LG Tubaldini Jr
Produção de Elenco Cibele Santa Cruz
Produtor LG Tubaldini Jr
Produção Executiva Flávio Ramos Tambellini
Produtor Associado Alexandre Coutinho
Direção de Produção Tuinho Schwartz
Coordenador de Produção Manuela Duque, Graziella Monteiro
Diretor de Fotografia Helcio Nagamine
Direção de Arte Zé Luca
Figurino Valéria Stephanie
Som Direto Lício Marcos
Maquiagem Auri
Pós-Produção Veruska Bauerle

Elenco:
Danton Mello, Fábio Porchat, Anderson Di Rizzi, Rodrigo Pandolfo, Carol Castro, Sabrina Sato, Gigante Leo, Oscar Calixto, Pedro Paulo Rangel, Nélson Freitas, Jackson Antunes

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