Por: Franz Lima
Será que um dia irão esquecer o que fiz? Creio que sim, pois a humanidade sempre terá outros casos mais malignos que o meu. E o passado, além disso, não dá lucro. Meu tempo aqui, presa, prova-me diariamente que nada melhor que um dia após o outro. Com o passar dos dias, meses e anos eu me tornarei uma pálida lembrança, algo a se esquecer, algo que não dá mais lucros para a imprensa ou aos advogados. Reclusa estou e é assim que provavelmente morrerei.
Será que um dia irão esquecer o que fiz? Creio que sim, pois a humanidade sempre terá outros casos mais malignos que o meu. E o passado, além disso, não dá lucro. Meu tempo aqui, presa, prova-me diariamente que nada melhor que um dia após o outro. Com o passar dos dias, meses e anos eu me tornarei uma pálida lembrança, algo a se esquecer, algo que não dá mais lucros para a imprensa ou aos advogados. Reclusa estou e é assim que provavelmente morrerei.
Mas nem tudo foi sempre assim. Houve uma época em que eu era bela, rica, cobiçada. Meus dias eram um conto de fadas, mesmo com todos os problemas que há em uma família. Eu era feliz e nunca valorizei de verdade essa felicidade. Aliás, praticamente todos nós jamais damos o devido valor ao que temos, até que o perdemos...
Eu não perdi minha felicidade. Eu a extirpei da minha existência. Agi como um cirurgião e removi, definitivamente, a alegria da vida. Por impulso, medo, covardia, ganância... não importa o motivo, pois os resultados são irreversíveis.
Assisto o que fiz todos os dias. Não há como evitar. Não há como esquecer. Ao contrário dos espectadores lá de fora, meus erros me perseguem como um animal que precisa matar para sobreviver. E, cedo ou tarde, serei alcançada.
E o que fiz? Eu dei fim a quem me pôs no mundo. Matei, com a ajuda de outros, meus pais. Não mais importam os motivos, já que os resultados são inalteráveis. Não vou me justificar. Não vou amenizar. Mesmo que saia daqui, a culpa me acompanhará. E esse é um castigo doloroso.
Não sintam pena de mim. Não sou inocente. Mesmo que o sangue deles não tenha respingado em minhas mãos, minha boca ainda sente o gosto. Eu sorvi o sangue de meus pais indiretamente. Eu vi os últimos segundos de suas vidas e ainda posso ouvir o som de seus ossos sendo amassados, quebrados. Mas o pior, o que mais me atormenta, é a última palavra de meu pai: "filha".
Preciso falar mais? O que querem que eu faça? Suicídio? Não, isso não acabaria com o que está acontecendo, não diminuiría o meu crime. Sim, o crime é meu pois, mesmo não tendo batido neles, a ideia é minha. A mente por trás de cada movimento é a minha. O erro é meu.
Alguns podem julgar que já estou pagando. Presa, sem meu luxo, o dinheiro, os parentes, o irmão. Perdi quase tudo que me mantinha ligada a este mundo. Perdi a liberdade e o amor. Entretanto, tudo isso não me foi tirado, já que eu mesma arremessei cada coisa e pessoa que amava em um precipício. Eu me despi dos pudores e do convívio, joguei ao chão o respeito e a piedade. Eu fui meu próprio carrasco.
Agora, condenada, passarei muitos e muitos anos enjaulada, longe do mundo real. Aqui, entre outras feras, lutarei dia a dia por um pouco de ar e pela vida, mas cada noite é pior que a outra. Não há como dormir em paz. Não há como repousar. Tenho medo de ser morta pelos mesmos monstros que convivem diariamente comigo.
Eu acredito que alguns de vocês devem estar pensando que isso já é um grande castigo. Não sabem como estão errados.
O pior de tudo chega com a noite. Não bastasse a hipótese de morrer no fia da faca de outra detenta, eles insistem em me abordar. É por isso que tenho plena certeza de que não morrerei velha. Ouço seus lamúrios.
Todas as noites eles voltam. As faces marcadas, deformadas e os dedos em riste indicando que eu preciso pagar. Eles não estão satisfeitos com a justiça dos homens e eu sei que estão corretos. Mas não tenho coragem.
A mim, maldita e culpada, resta-me apenas sorrir. Contudo, não é um sorriso de felicidade. Estou morta em vida. Os lábios que se expandem em um largo sorriso não refletem alegria ou esperança. Em cada expressão de alegria se escondem o medo, a culpa, as acusações e, principalmente, as palavras de meus pais que pedem incessantemente: "junte-se a nós, filha. Ainda a amamos..."
E o que fiz? Eu dei fim a quem me pôs no mundo. Matei, com a ajuda de outros, meus pais. Não mais importam os motivos, já que os resultados são inalteráveis. Não vou me justificar. Não vou amenizar. Mesmo que saia daqui, a culpa me acompanhará. E esse é um castigo doloroso.
Não sintam pena de mim. Não sou inocente. Mesmo que o sangue deles não tenha respingado em minhas mãos, minha boca ainda sente o gosto. Eu sorvi o sangue de meus pais indiretamente. Eu vi os últimos segundos de suas vidas e ainda posso ouvir o som de seus ossos sendo amassados, quebrados. Mas o pior, o que mais me atormenta, é a última palavra de meu pai: "filha".
Preciso falar mais? O que querem que eu faça? Suicídio? Não, isso não acabaria com o que está acontecendo, não diminuiría o meu crime. Sim, o crime é meu pois, mesmo não tendo batido neles, a ideia é minha. A mente por trás de cada movimento é a minha. O erro é meu.
Alguns podem julgar que já estou pagando. Presa, sem meu luxo, o dinheiro, os parentes, o irmão. Perdi quase tudo que me mantinha ligada a este mundo. Perdi a liberdade e o amor. Entretanto, tudo isso não me foi tirado, já que eu mesma arremessei cada coisa e pessoa que amava em um precipício. Eu me despi dos pudores e do convívio, joguei ao chão o respeito e a piedade. Eu fui meu próprio carrasco.
Agora, condenada, passarei muitos e muitos anos enjaulada, longe do mundo real. Aqui, entre outras feras, lutarei dia a dia por um pouco de ar e pela vida, mas cada noite é pior que a outra. Não há como dormir em paz. Não há como repousar. Tenho medo de ser morta pelos mesmos monstros que convivem diariamente comigo.
Eu acredito que alguns de vocês devem estar pensando que isso já é um grande castigo. Não sabem como estão errados.
O pior de tudo chega com a noite. Não bastasse a hipótese de morrer no fia da faca de outra detenta, eles insistem em me abordar. É por isso que tenho plena certeza de que não morrerei velha. Ouço seus lamúrios.
Todas as noites eles voltam. As faces marcadas, deformadas e os dedos em riste indicando que eu preciso pagar. Eles não estão satisfeitos com a justiça dos homens e eu sei que estão corretos. Mas não tenho coragem.
A mim, maldita e culpada, resta-me apenas sorrir. Contudo, não é um sorriso de felicidade. Estou morta em vida. Os lábios que se expandem em um largo sorriso não refletem alegria ou esperança. Em cada expressão de alegria se escondem o medo, a culpa, as acusações e, principalmente, as palavras de meus pais que pedem incessantemente: "junte-se a nós, filha. Ainda a amamos..."
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