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Novos livros da Companhia das Letras. Semana 169


A cidade, o inquisidor e os ordinários, de Carlos de Brito e Mello
A moral e os bons costumes estão satirizados neste que é um dos mais originais romances da literatura brasileira contemporânea. Um inquisidor percorre as ruas e ocupa as consciências dos cidadãos. A cada pecado proclamado, a noção de comunidade vai sendo gradualmente esmagada pela pequenez de nossos atos diários, tornando o cotidiano um permanente auto de fé. As conversas entre vizinhos indiscretos, a voracidade que muitos têm para investigar a vida alheia e o desmoronamento da sociedade em nome da vigilância de cada uma de nossas ações — alegadamente para o nosso próprio bem-estar — fazem deste romance de Carlos de Brito e Mello um dos textos mais contundentes (e divertidos) da ficção atual.


Uma teoria provisória do amor, de Scott Hutchins (Tradução de José Geraldo Couto)
Apesar de não entender nada de informática, o ex-redator de publicidade Neill Bassett Jr. está engajado na tentativa de criação do primeiro computador inteligente do mundo. A explicação é simples: a memória do computador foi alimentada basicamente com os diários de seu pai, um médico do Arkansas que se matou há quase vinte anos. Esse é o ponto de partida do romance de estreia de Scott Hutchins. Os dilemas e as descobertas dolorosas de Neill no processo de fazer seu pai reviver virtualmente se entrelaçam com seus próprios tropeços na vida pessoal, tendo como pano de fundo a paisagem multicolorida da baía de San Francisco, com sua variada fauna de artistas, nerds,  místicos, pornógrafos e picaretas de todo tipo. Narrado em primeira pessoa pelo protagonista, Uma teoria provisória do amor encanta o leitor desde a primeira página pelo tom leve e satírico com que observa seus personagens e, ao mesmo tempo, comenta as loucuras do mundo contemporâneo.


Dever, de Armando Freitas Filho
Na primeira parte de Dever, apropriadamente chamada “Suíte”, o autor retorna ao Lar, de 2009, e o reelabora viajando, através da vida da memória pretérita à dos dias atuais. Esse conjunto de poemas se detém em “casas, roupas, móveis etc.” que “não são necessariamente obras de arte. São disposições humanas da matéria sensível. Se dispostas de tal forma que sirvam pra fins estéticos, então são obras de arte”, como afirmou James Joyce nos esboços de uma “Estética”, escrita na mocidade. A segunda, “Anexo”, já está na rua, “jornalística”, mas sem abrir mão do transfigurador trabalho literário, dando conta dos eventos de antes e de agora, que atravessaram o poeta. A terceira, “Numeral”, que desde 2003 é a coda dos livros de Armando Freitas Filho, continua obstinadamente a passar em revista sua poética, com um anseio de ensaio, sempre sujeita, ao que parece, a retificações futuras, até quando ele não puder numerar mais.

Editora Paralela

A lista do nunca, de Koethi Zan (Tradução de Elvira Serapicos)
Vítimas de um acidente de carro quando ainda eram crianças, as amigas inseparáveis Sarah e Jennifer decidem tomar todos os cuidados para se manter sempre seguras. No entanto, quando estão no primeiro ano da faculdade acabam sendo sequestradas facilmente depois de entrar em um táxi à noite. Em uma situação pior do que jamais poderiam imaginar, elas passam os três anos seguintes acorrentadas no porão da casa de um professor — alguém acima de qualquer suspeita, mas que praticava com elas as mais diferentes técnicas de tortura. Dez anos depois, a vida de Sarah está longe de ser normal. Seu sequestrador, que ainda lhe manda cartas da prisão, está prestes a ser liberado. Por mais que busque ficar distante, voltar aos acontecimentos do passado pode ser sua única chance de realmente se livrar de tudo. A lista do nunca se torna ainda mais impressionante e assustador quando vemos, na vida real, fatos que não são tão distantes assim da ficção. Um deslize, um único momento de desatenção, pode ser fatal.


Os números do jogo, de Chris Anderson & David Sally (Tradução de André Fontenelle)
De forma surpreendente, o estatístico Chris Anderson e o especialista em estratégias David Sally mostram por que os números do jogo podem nos ajudar a compreender o futebol em sua essência. Ao ler este livro, você vai descobrir por que os escanteios devem ser cobrados curtinho, por que o futebol é um esporte do elo mais fraco e por que demitir o treinador não resolve absolutamente nada.

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