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O Palhaço. Resenha do filme com Selton Mello e Paulo José.

O Palhaço. Resenha por Franz Lima

O filme retrata as aventuras (ou seriam desventuras) de uma trupe circense. De cidade em cidade (bem pequenas, por sinal), eles vão levando alegria, mas é após os shows que os verdadeiros artistas se mostram. Sem maquiagens, à mercê de um pagamento ínfimo e vivendo através do amor pelo que fazem, as coisas nem sempre são tão alegres quanto no palco.
Já de início vemos que eles são apreciadores do que fazem. Vivem privados de muitas coisas, porém jamais são privados das próprias amizades.
Mas nem só de risos vive o palhaço. Selton Mello (Benjamin, o palhaço Pangaré) é o herdeiro do circo Esperança. Em Pangaré estão depositadas todas as esperanças do pai (Paulo José, o palhaço Puro Sangue) que é seduzido e manipulado pela sensual dançarina do circo. Ciente dessa traição, começa o combate interno para dizer ou não a verdade a seu pai, sabendo que as consequências podem ser terríveis.

Eu faço o povo rir, mas é quem é que vai me fazer rir?

A tristeza por sentir que não é aquilo o que ele mais deseja vai minando as forças de Selton. Ele ama o pai, ama os amigos e sente prazer em ser um integrante da trupe, porém tem consciência de que seu futuro, a princípio, não está ali. É hora de abandonar o circo e deixar de lado a roupa de palhaço.

Até esse ponto, temos atuações magníficas, convincentes e com boas passagens de humor, intercaladas por algum drama. Notem a participação de Moacyr Franco como delegado, além de Ferrugem e outras gratas surpresas.
Músicas e atuações contribuem para esse sobe e desce emocional, para o ápice de humor e dor. Fantástico.,

E a vida continua....
Assim como a máscara do palhaço cai, a máscara da mentira também cede.
Lola, a dançarina, perde a influência diante do pai de Selton e é excluída do grupo. Enquanto isso, Selton procura pela mulher de Passos, a mesma que o cumprimentou no início do filme.
Durante todo o filme vemos que ele tem uma fixação por ventiladores. E se torna um vendedor de eletrodomésticos, mas isso não o preenche. É através deste revés que ele começa a perceber seu verdadeiro dom.
O que posso dizer sobre o filme em si: ele é magnífico. Um espetáculo circense simples, belo e cativante, mas pleno de amor, pleno de arte e representação. Só quem já esteve em um circo sabe o quanto é verdadeiro cada sorriso durante as apresentações. Cada espanto, grito ou lágrima são oriundos do fundo da alma, algo que só um circo pode trazer.
Em  'O Palhaço' somos presenteados com os bastidores da vida de um grupo de circo, suas emoções, tristezas e sonhos. Mas, primordialmente, somos postos frente a frente com o maior espetáculo da Terra: a diversão em sua forma mais simples.
Parabéns a todos que integraram esta obra-prima.  Parabéns a Selton Mello e Paulo José pela intensidade com que interpretaram, pela parceria que trouxe a nítida impressão de que realmente são pai e filho. A eles, e a todo o elenco, devo lágrimas de alegria, pois só um palhaço é capaz de fazer alguém chorar por estar contente. E é assim que me sinto: feliz por ter vivido o suficiente para ver uma obra tão linda...
Franz.

Comentários

  1. Eu sou um ferrenho crítico no cinema nacional (e de filmes ruins no geral, sejam eles de onde forem). Geralmente odeio o cinema que se faz por aqui. Acho fracos, previsíveis e rasos. São filmes feitos por diretores fraquíssimos, que geralmente se sustentam por palavrões, nudez e sexo. Ou por comédias bobas e babacas produzidas em parceria com a Rede Globo (e esses são os piores filmes de todo). Mas esse filme, O palhaço, é uma VERDADEIRA OBRA PRIMA do cinema nacional. Parabéns. Parabéns aos envolvidos. Nem parece coisa feita no Brasil de tão bom...

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  2. Tenho um ventilador GE igual, mas o meu é marrom !

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  3. Disseste tudo que eu queria e muito mais. A frase mágica dita para Fabiana Carla (Eu faço o povo rir, mas é quem é que vai me fazer rir?) mexeu muito comigo.
    Fiquei um tanto perdido no início e até temi que não fosse passar daquelas andanças, mas depois que o enredo engrenou me apaixonei.
    E chorei no retorno ao palco e ao reencontro com o sorrir com prazer.
    Linda a tua resenha, Franz.

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    1. Muito obrigado pelo comentário elogioso, Pepê. Espero que goste do retorno do Apogeu às resenhas e reviews. Abração.

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