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Por ti, Cassandra: parte final.

Caso ainda não tenha lido as partes anteriores, eis os links:

 


XVIII
 
Uma  alma  é  algo  imortal.  Eu  fui  uma  alma  e  reneguei  a imortalidade que lhe é devida. Ser eterno sem  um  propósito não me atraía.
Eu  sou uma divindade, agora.  Paul fez um  sacrifício por amor a  algo  incompreendido.  Muitos  questionaram  seu  ato,  muitos comentaram,  muitos  fizeram  preces  por seu  espírito  e,  em  muitos, esta  história  estará  sempre  viva.  Isso  me  deu  o  que  faltava  para
ascender  ao  panteão  dos  Eternos.  Agora,  uma  nova  busca  se iniciava.
O  sofrimento  de  meu  antigo  companheiro  era  a  prova derradeira  do  que  ele  sentia  por  mim.  Sua  morte  deveria  ser  um ponto  final  à  sua  existência,  mas  morrer  por  amor  é  algo  que poucos fizeram.  Qualquer  um  que  faça  algo  dessa  magnitude  não passa incólume.
Muitos anos se  passaram  e,  em  um  sombrio dia, encontrei  a essência, a alma de Paul. Ele não partiu. Ele ainda estava vinculado ao seu amor não correspondido. Chegara a hora de retribuir tudo o que  fez  a  meu  favor,  colocando  para  sempre  ao  meu  lado,  como meu único amor.

XIX

Não entendo o que está acontecendo.  Eu sempre tive grande dificuldade  em  pôr  as  palavras  no  papel.  Agora,  entretanto,  uma história  passa  diante  de  meus olhos, e minhas mãos não param  de escrever. Já estou a quase seis horas trabalhando sem  parar e não sei  quando  tudo  irá  terminar,  mas  não  tenho  pressa.  Este  é  um momento sublime e vou saboreá-lo até o fim.
Muitas  horas  mais  transcorreram.  Meus  dedos  doem  e  há pequenos sangramentos,  o  que  não  me  incomoda.  À minha  frente vejo  o  trabalho  definitivo  de  um  escritor.  Uma  história  de  amor diferente, eterna e sinistra.
Os  detalhes  me  deixam  curioso.  Há  citações  de  lugares  e épocas  que  não  conheci  e,  entretanto,  existem,  todos detalhadamente  transcritos.  Nunca  acreditei  em  espíritos,  mas  vou abrir uma exceção dessa vez.

XX
 
Paul  me  conta  detalhes  de  sua  jornada  pelo  mundo  dos mortos.  Ele  sofreu  torturas  por  parte  de  espíritos  obsessores, homens  presos  a  seus  amores  mundanos,  às  suas  paixões materiais  e  desejosos de  continuar  entre  os vivos.  Ele  relata,  com tristeza,  seu  encontro  com  o  jovem  que  encontrou  seus  restos mortais e a destruição de sua mente. Uma perda que foi gravada no espírito  de  Paul,  já  que  ele  nunca  teve  a  intenção  de  destruir alguém, além de si próprio.

XXI

Fui  até  um  hospício,  uma  casa  para  tratamento  de  doentes mentais,  em  busca  de  pistas  sobre  o  que  realmente  estava ocorrendo.  Aquela  história  poderia  ser  apenas  fruto  de  minha imaginação, mas antes de acreditar nisso, era  necessário  averiguar as informações que recebi.
Cheguei à recepção e citei o nome do jovem. Foram segundos de espera  longos e nervosos. A única  coisa que eu queria ouvir era que ele não existia.
Então,  com  um  leve  menear  de  cabeça,  a  atendente confirmou  que  o  bombeiro  estava  realmente  internado  naquele lugar.
Por pouco não permaneci ao lado dele.

XXII

Meu objetivo foi atingido. O  romance sobre minha história com Paul foi publicado. Sucesso imediato.
Do  fruto  disso,  o  espírito  de  meu  companheiro  ganhou  mais substância.  Ele  ainda  era  um  bebê,  perto  do  que  hoje  sou,  porém estava no bom  caminho. Comigo, em  apenas alguns séculos ele iria se  tornar  uma  divindade,  usando  de  todos  os  recursos possíveis.
Comigo,  sua  história  iria  se  perpetuar pelas  gerações vindouras e, um  dia, iremos enfim  selar a união do sangue e do espírito. O tempo provaria que, mesmo separados, sempre fomos um só.
 
 

Obrigado a todos que prestigiaram meu trabalho ao ler este conto.

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