Fonte da biografia: Spectrum Gothic
Abraham Stoker nasceu no dia 8 de
novembro de 1847, em Clontarf, Dublin, Irlanda. Terceiro filho
de um total de sete irmãos, sofreu nos primeiros anos de
sua vida com uma saúde frágil que o impedia de até
mesmo de se locomover. Neste período, o infante Bram Stoker
passava seu tempo ouvindo histórias de sua mãe e
lendo compulsivamente livros e contos de terror sobrenatural.
Certamente, esta fase contribuiu muito para o seu desenvolvido
criativo.
Com
15 anos de idade ingressa no tradicional Trinity College de sua
cidade natal e, mesmo com a saúde vulnerável, dedica-se
com êxito às atividades esportivas. Imerso no ambiente
acadêmico e intelectual, o jovem Stoker passou a integrar
a chamada Sociedade Filosófica; onde teve a oportunidade
de produzir um ensaio intitulado Sensationalism in Fiction
and Society. Posteriormente, ainda viria a ocupar a função
de auditor da Sociedade Histórica e presidir a Sociedade
Filosófica.
No ano de 1866, Stoker, assim como
seu pai, passa a trabalhar no funcionalismo público no
castelo de Dublin. Forma-se em matemática em 1870, mas,
mesmo graduado, dá continuidade aos estudos diariamente
por meio período. O interesse de Stoker pelo teatro levou-o
a oferecer-se voluntariamente (e sem remuneração)
como crítico do jornal Dublin Evening Mail. Suas
críticas inteligentes e embasadas elevaram seu nome junto
aos meios sociais, artísticos e intelectuais da cidade.
Assim, passa a conviver com personalidades influentes chegando
até mesmo a conhecer Oscar
Wilde, Arthur Conan Doyle e William Butler Yeats.
No ano de 1873, é convidado
a assumir a editoração do jornal Irish Echo
(que mais tarde seria rebatizado como Halpenny Press),
trabalhando sem remuneração salarial e por meio
período. Entretanto, o impresso não obteve o sucesso
esperado e Stoker abandonou a atividade no ano seguinte.
A partir deste momento, passa a
produzir seus primeiros contos e peças ficcionais que eram
publicados em jornais da cidade. The Chain of Destiny
foi seu primeiro trabalho na linha do terror sobrenatural, publicado
em 1875 no periódico Shamrock.
No ano seguinte, o autor inglês
Henry Irving assume a direção do Royal Lyceum
Theatre, de Londres, e convida Stoker para ocupar a função
de gerente. Neste mesmo período, Stoker casa-se com a atriz
Florence Balcombe, uma das mais belas mulheres Dublin. Um fato
interessante é que Florence havia sido prometida como esposa
à Oscar Wilde; entretanto, optou pelo casamento com Stoker
devido seu emprego e estabilidade junto ao governo.
Os primeiros anos em Londres foram
bastante intensos e produtivos. Em 1879 publica The Duties
of Clerks of Petty Sessions in Ireland; no mesmo ano nasce
Noel, único filho do casal. Under the Sunset,
uma coletânea de contos infantis, foi publicada em 1882.
Neste momento, inicia-se a fase mais criativa e próspera
da vida de Bram Stoker.
Seu cargo no Lyceum Theatre o colocava
em contato com o núcleo intelectual londrino. Assim, no
final desta década, publicou seu primeiro romance: The
People (1889). Nos anos seguintes, são publicados
O Castelo da Serpente, The Watter’s Mou
e Croken Sands e The Shoulder of Shasta.
Em maio de 1897, publica a obra
que incluiria seu nome definitivamente na literatura mundial:
Dracula. O romance epistolar, permeado pelo horror tétrico
e sobrenatural, aborda a trajetória do diabólico
Conde Drácula, da Transilvânia à Inglaterra;
pautado ainda por personagens célebres como Jonathan Harker
e Abraham Van Helsing.
A
publicação de Drácula encontrou uma boa receptividade
em alguns críticos que o consideraram uma rara combinação
de um tema lúgubre com uma trama bem construída.
Por outro lado, gerou opiniões contrárias em relação
à abordagem e à temática tétrica.
Na ocasião do lançamento, Stoker promoveu uma leitura
do texto no Lyceum durante quatro horas. Entretanto, da mesma
forma que o livro, as condições e referências
usadas como base para sua composição, despertam
interesse e suposições por parte de críticos,
estudiosos e leitores.
A inspiração para
o enredo pode ter sido extraída de um sonho do autor no
qual um vampiro emergia do túmulo. A obra Carmilla
(Sheridan Le Fanu – 1872) e The Vampyre (Polidori
– 1819) possivelmente influenciaram a temática e
o aspecto literário. Da mesma forma, o interesse de Stoker
pela biografia de Vlad Tepes contribuiu na elaboração
do personagem principal. Ainda, a personalidade autoritária
de Henry Irving pode se refletir nas características do
próprio Conde Drácula. Enquanto que o comportamento
dominante de Florence sobre Stoker pode ter ser sido referenciada
inversamente na dominação de Drácula sobre
o sexo feminino.
Nos anos seguintes, Stoker deu
continuidade as suas atividades literárias em ainda foram
publicados Miss Betty (1898), Os sete dedos da morte
(1903) e The Man (1904), entre outras que não
obtiveram o mesmo sucesso de Dracula.
Sua carreira e vida pessoal entram
em decadência. O Lyceum e seu acervo de adereços
cênicos são destruídos por um incêndio.
Em seguida, o teatro, em condições precárias
é transferido ao um sindicato; no entanto, encerra definitivamente
suas atividades em 1902. Henry Irving falece em 1905. No mesmo
ano, Stoker sofre um derrame cerebral e contrai a doença
de Bright que afeta o funcionamento dos rins.
A saúde de Stoker se deteriora
gradativamente. Ainda sim, em 1906, publica, em homenagem ao amigo
e sócio, Personal Reminiscences of Henry Irving.
Após três anos, é publicado O Caixão
da Mulher-Vampiro e em 1911 seu último romance intitulado
O Monstro Branco.
Em 20 de abril de 1912, em Londres,
Abraham Stoker, autor de uma das maiores obras da literatura mundial,
falece em sua casa na companhia de Florence. Após a morte
do autor, Florence Stoker, que morreria apenas em 1937, herdou
os direitos de publicação de Drácula e cedeu
permissão para que o teatrólogo Hamilton Deane adaptar
o romance à peça teatral. Esta foi a primeira adaptação
que a obra recebeu e contribuiu muito para sua popularização.
Em 1922, Nosferatu, filme baseado no romance de Stoker,
estreou nas telas do cinema sob direção do alemão
Murnau.
A biografia de Stoker poderia ter
sido suplantada pela história, pelo tempo e talento de
tantos célebres autores. No entanto, o velho e demoníaco
conde da Transilvânia aterrorizou o mundo nas palavras de
Stoker, na figura de atores do cinema e na concepção
de diretores teatrais, sublimando seu criador ao patamar de celebridade
literária do século XX.
Se a biografia de Stoker é
opaca frente à popularidade de seu Conde, é certo
que a memória do próprio autor ainda vive na figura
de Drácula, e o espectro de ambos se eterniza no inconsciente
de cada um de nós, e revive pelo temor e pelo terror sempre
que seu nome é pronunciado.
O DIÁRIO DE JONATHAN HARKER
(Notas taquigráficas)
(Notas taquigráficas)
3 DE MAIO, BISTRITZ. Parti de Munique às 20h35 da noite, chegando a
Viena na manhã seguinte. A chegada estava prevista para as 6h45 da
manhã. O nosso trem, porém, se atrasara em uma hora. Pelo que pude
apreciar ainda do trem, através do clarão de suas luzes, e de uma breve
caminhada pelas ruas, Budapeste pareceu-me uma cidade realmente
maravilhosa. Não obstante, limitei-me a uma rápida excursão em torno da
estação ferro viária, pois, em virtude do atraso, devíamos partir o mais
cedo possível. Tive então a impressão de que o Ocidente ficara para
trás e que agora entrávamos no Oriente. A mais ocidental das portentosas
pontes que cruzam o Danúbio, cujo leito aqui nos impressiona por sua
amplitude e profundidade, põe-nos inopinadamente em contato com as
tradições do mundo turco.
Deixamos Budapeste com a desejada pontualidade e, já ao anoitecer,
atingimos Klausenburgo. Aqui fiz uma pausa e pernoitei no hotel Royale. À
guisa de jantar ou, antes, de uma ceia, serviram-me um frango
condimentado com uma espécie de pimenta vermelha, prato bastante
saboroso, o qual, entretanto, me deixou com muita sede. (Lembrete: obter
uma receita para Mina.) Indaguei do garçom e ele me disse que se
tratava de paprika hendl, preciosidade da culinária nacional que poderia
ser saboreada ao longo de toda a rota dos Cárpatos. Começava eu então a
avaliar a verdadeira utilidade local dos arremedos de alemão que, às
vezes, conseguia articular. E, efetivamente, não saberei jamais como
teria prosseguido se não fosse capaz de apelar para semelhante ginástica
linguística.
Dispondo de algum tempo livre durante minha per manência em Londres ali
frequentei o Museu Britânico, consultando livros e mapas geográficos na
biblioteca, a fim de recolher dados sobre a Transilvânia. Eu estava
convencido de que um certo conhecimento prévio a respeito daquela região
dificilmente deixaria de ser válido para estabelecer mais sólidas
relações com um nobre do mesmo país. Verifiquei então que o distrito por
ele citado se achava localizado no extremo oriental do território,
precisamente na faixa limítrofe de três Estados: Transilvânia, Moldávia e
Bukovina, no centro da cadeia dos Cárpatos, um dos mais selvagens e
desconhecidos sítios da Europa. Em nenhuma das muitas obras e mapas
consultados me foi possível estabelecer a exata localização do Castelo
de Drácula, porquanto ainda não existem cartas geográficas da área em
causa, comparáveis às que são editadas pelo nosso Serviço Geodésico
oficial. Descobri, porém, que Bistritz, a vila postal indicada pelo
Conde Drácula, corresponde a uma localidade razoavelmente bem conhecida.
Incluirei aqui algumas de minhas anotações, pois as mesmas servirão
para ativar minha memória quando relatar esta viagem ao voltar para
junto de Mina.
A população da Transilvânia é formada por quatro distintas
nacionalidades: os saxões no sul e, de mistura com eles, os valáquios,
descendentes dos dacos; no oeste, os magiares; e, finalmente, nos
setores norte e leste, os szekes. Meu destino leva-me à região habitada
por estes últimos, os quais se dizem descendentes de Átila e dos hunos.
Tais pretensões devem ser legítimas, pois quando os magiares
conquistaram o país, ainda em pleno século onze, ali encontraram os
hunos já fixados. Já li alhures a afirmação de que todas as superstições
existentes neste mundo se originam da ferradura dos carpatianos, como
se para lá convergissem todos os vórtices das mais férteis imaginações.
Mas se assim o é, de fato, minha permanência em tal ambiente se tornará
sumamente interessante. (Lembrete: preciso interrogar o Conde no tocante
à vera cidade desses fatos.)
Embora o meu leito fosse bastante confortável, não consegui dormir
tranquilamente, pois meu sono foi perturbado pelos sonhos mais bizarros.
Havia sob a minha janela um cão que uivou a noite inteira, o que
provavelmente também contribuiu para a minha insônia, ou talvez a
paprika a tivesse provocado, já que durante a noite fui obrigado a
esvaziar todo o conteúdo do meu jarro de água potável, sem contudo
saciar a minha sede. Já ao amanhecer, mal eu havia adormecido, fui
despertado por sucessivas batidas a minha porta, o que me faz crer que
finalmente estivesse dormindo a sono solto. No desjejum tornaram a
servir-me uma farta porção de paprika, acompanhada de uma espécie de
sopa de farinha de milho a que denominam de mamaliga e berinjela
recheada de carne, delicioso prato conhecido como impletata. (Lembrete:
obter também esta receita.) Mal pude saborear tal refeição. É que o trem
deveria partir antes das oito da manhã. Este propósito, entretanto, não
foi além da intenção, pois, a despeito de minha correria para chegar à
estação às sete e trinta, fiquei imobilizado em minha poltrona por mais
de uma hora diante da plataforma de embarque até soar o sinal de
partida. Parece-me aqui que quanto mais avançamos para leste mais
aumenta a impon tualidade dos comboios ferroviários. Nesta progressão, o
que dizer desta pontualidade na China?
Durante o dia inteiro parecíamos rolar através de um país emoldurado das
mais fartas e variadas belezas. Por vezes deparávamos com pequenas
vilas ou castelos engastados nos cumes de elevações alcantiladas, como
os costumamos ver nas litogravuras de missais antigos. Logo adiante,
marginávamos rios e torrentes cujas extensas margens, recobertas de
volumosas pedras e calhaus desnudos, pareciam estar sujeitas a violentas
e periódicas inundações. Somente uma massa d'água realmente portentosa e
dotada de uma tremenda força de devastação é capaz de tamanha erosão em
tão amplas faixas ribeirinhas. Em cada uma das estações do nosso
trajeto notamos a presença de grupos de pessoas, às vezes mesmo pequenas
multidões, todos ostentando trajes dos mais variados tipos e aspectos.
Alguns deles assemelhavam-se particularmente aos campesinos de nosso
país ou mesmo àqueles que encontrei em minhas andanças através da França
e da Alemanha, vestindo jaquetas curtas em conjunto com calças de
confecção caseira, complementadas por um chapéu redondo. E ainda outros
que se destacavam por seu vivo pitoresco. As mulheres em geral eram
graciosas, exceto quando observadas de perto. Suas cinturas eram pesadas
e muito volumosas. Todas elas portavam blusas com mangas longas e
brancas dos mais variados tipos. A maioria usava cintos largos, dos
quais pendiam profusas tiras leves e quase flutuantes, semelhantes a uma
vestimenta de ballet, sob as quais, obviamente, havia uma anágua. As
figuras étnicas mais estranhas eram representadas pelos eslovacos, que
formavam um aglomerado de aspecto muito mais bárbaro que os demais, com
seus enormes chapéus de vaqueiro, amplas calças de lona de um branco
cru, camisas de linho branco, cingidas por enormes e pesados cinturões
de couro, medindo aproximadamente trinta centímetros de largura e
fartamente guarnecidos de cravos de bronze. Calçavam altas botas em
cujos canos inseriam as extremidades das pernas de suas calças. Suas
cabeleiras eram longas e negras, e seus bigodes também negros eram de
tamanho e espessura dos mais avantajados. Quanto ao aspecto eram
realmente pitorescos, mas aparentemente nada afáveis. Vistos sobre um
palco, seriam imediatamente identificados no papel de um bando de
antigos salteadores orientais. No entanto, conforme a seguir vim a
saber, trata-se de gente de hábitos acentuadamente pacatos e talvez
carente de uma mais natural autoafirmação.
Já o crepúsculo descambava para a noite fechada quando alcançamos
Bistritz, que antes de tudo é um sítio antigo dos mais interessantes.
Localizando-se praticamente na fronteira - posto que o Passo Borgo
conduz diretamente a Bukovina - sua existência pregressa foi das mais
atribuladas e, evidentemente, guarda até hoje claros vestígios deste seu
passado. Há cinquenta anos, foi assolada por uma sucessão de grandes
incêndios, os quais em cinco diferentes oportunidades lhe causaram uma
tremenda devastação. Ainda no limiar do século dezessete, Bistritz foi
submetida a um assédio que teve a duração de três semanas. Teve então
treze mil baixas, sendo a maior parte dessas perdas de guerra causada
por doenças e pela fome.
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