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A partida de Millôr Fernandes. O Brasil fica mais triste sem ele e Chico Anysio

Fonte: Jornal do Brasil

Chico e Millôr

Num espaço de menos de uma semana, a terra ficou mais pobre, e o céu, mais iluminado. Foram-se Chico Anysio e Millôr Fernandes, dois gênios das artes, das letras, do humor, do pensamento, da inteligência, da irreverência, do bom gosto.
Quando o Brasil ainda se recuperava, ou tentava se recuperar, da perda do pai de Painho, Azamuja, Alberto Roberto, Bozó e Salomé, entre tantos outros, vem a notícia de que Millôr Fernandes também partiu. Só nos resta imaginar como deve estar divertido lá em cima.
Autor de tiradas memoráveis, Millôr, assim como Chico, não se contentava com pouco: era desenhista, tradutor, jornalista, roteirista de cinema e dramaturgo. Enfim, um artista completo.



Em 1985, Millôr passou a ser dono de um espaço cativo na página 11 da editoria de Opinião do Jornal do Brasil. Suas frases e desenhos marcaram época, temperados com o habitual humor, sutil e enxuto. Sua participação no JB seguiu até 1992,  e enriqueceu ainda mais nosso acervo. Quando deixou o jornal, ele não disse que estava indo embora: comunicou aos leitores que sairia de férias para descansar um pouco.
No entanto, muito antes de se tornar colaborador do JB, Millôr já frequentava nossas páginas. Na verdade, nós é que o frequentávamos. Numa entrevista publicada em 21 de abril de 1957 no Suplemento dominical, o gênio, então com 33 anos de idade, já se manifestava. Veja como o próprio Millôr se definiu na época, a pedido da jornalista:
“Eu sou humorista contra vontade. Um teatrólogo, porque o Armando Couto me chateou tanto que escrevi uma peça. Vou fazer cinema porque no momento me considero um sujeito sem profissão. Em matéria de atividades, a de que mais gosto é ir à praia. Calço sapato 40, mas poderia calçar 42 do mesmo jeito – não me doeria mais nem menos. Nunca vi programa de televisão que prestasse. Sou, para mal ou para bem, um sujeito eclético. Gosto de todas as pessoas, de todas as coisas, de todos os esportes, gosto de ficar em casa, de conversar na rua, de ficar calado. Só não gosto mesmo de televisão, de rádio e de comer. Tenho 33 anos: na idade em que Cristo fez uma religião, eu só fiz o Pif-Paf. Acredito profundamente no corpo, mas sou um atleta frustrado. Como qualquer concretista, também leio cinco línguas ('como qualsiasi concretiste yo aussi read cinco languages'). Não sou católico, mas tenho minhas relações diretas com Deus. E... chega”.
Descanse em paz, professor. Muito obrigado, e divirta-se lá em cima.

Arnaldo Jabor falou sobre a morte de Millôr:

O escritor Arnaldo Jabor lamentou a morte de Millôr Fernandes, em entrevista à Globo News, e salientou que, com a recente partida de Chico Anysio, o humor brasileiro sofreu um baque. 
"Fico espantado que, em poucos dias, morreram os dois maiores humorista do Brasil. Um ao vivo e em cores, com sua galeria de milhares de títulos, e o Millôr, que agora nos deixa", disse.
Jabor confessou não ter tido contato pessoal com ambos, mas afirmou que era conhecedor das obras. 
"Eu nunca tive contatos com os dois, apenas como leitor, telespectador. Mas acho que o humorismo não está com o mesmo vigor", afirmou.

Artistas lamentam a morte de Millôr:

A morte do escritor Millôr Fernandes, anunciada nesta quarta-feira (28), foi recebida com tristeza por artistas de todo o país.
Pelas redes sociais, muitos prestaram suas homenagens ao escritor. A atriz Cristiana Oliveira postou em seu perfil uma foto com o cartunista. 
"Vai com Deus mestre, filósofo, transgressor, polêmico, gênio, homem de luz!", escreveu ela. 
O ator Mateus Solano também lamentou a notícia, e postou frases atribuídas a Millôr, "um dos mais geniais pensadores que o Brasil já teve".
O cantor inglês radicado no Brasil, Ritchie, relembrou a morte do humorista Chico Anysio, no último dia 23. "Perder Chico e o Millôr numa semana só é uma baita falta de humor", comentou.
Internautas anônimos também prestaram suas homenagens; poucos minutos após o anúncio da notícia, seu nome já era o mais comentado no Twitter.
Millôr tinha 88 anos, e morreu de falência múltipla dos órgãos, segundo informou o perfil no Twitter da ex-editora do escritor, a L&PM.

Não há como negar que o talento e o humor de Millôr Fernandes morrem junto com o corpo. Contudo, suas obras, sua visão política, a crítica que aplicava aos fatos que atingiam nossa sociedade e muitos outros aspectos da inteligência, humor e cultura de Millôr sempre permanecerão. Melhor que isso, serão propagados, pois são exemplos, lições para as gerações futuras. O autor do humor pode ter partido, mas seus alunos irão surgir a cada novo dia, todos com o dever de manter viva a memória de um ser humano genial. Descanse em paz, Millôr.
(Franz Lima)



Comentários

  1. Dois duros golpes para o nosso país em tão pouco tempo...acho que alguém lá em cima está organizando uma festa e chamando os nossos maiores artistas.

    Que ele possa descansar em paz.

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    Respostas
    1. São perdas irreparáveis ao cenário cultural brasileiro, amigão. Mas a verdade é que o céu está mais alegre com a chegada deles

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