Autor: Ednelson Jr.
Sinopse: Em uma terra onde o
verão pode durar décadas e o inverno toda uma vida, os problemas estão apenas
começando. O frio está de volta e, nas florestas ao norte de Winterfell, forças
sobrenaturais se espalham por trás da Muralha que protege a região. No centro
do conflito estão os Stark do reino de Winterfell, uma família tão áspera
quanto às terras que lhe pertencem.
Dos
lugares onde o frio é brutal, até os distantes reinos de plenitude e sol, George
R. R. Martin narra uma história de lordes e damas, soldados e mercenários,
assassinos e bastardos, que se juntam em um tempo de presságios malignos. Entre
disputas por reinos, tragédias e traições, vitória e terror, o destino dos
Stark, seus aliados e seus inimigos é incerto. Mas cada um está se esforçando
para ganhar este conflito mortal: a guerra dos tronos.
“O inverno está chegando...”
As
Crônicas de Gelo e Fogo, eis uma saga que antes mesmo de começar a lê-la minha
curiosidade acerca dela já era alimentada. Não é para menos, afinal a série da
HBO fez com que George R. R. Martin e seus livros fossem um dos grandes
assuntos entre as rodas de leitores, seja no ciberespaço ou fora dele. O gosto
com que algumas pessoas falam dela é tamanho que você não pode deixar de querer
vorazmente devorar, tal como um lobo, essa trama que fascina do início ao fim.
Uma
das primeiras coisas que observei ao adquirir este primeiro volume da saga foi
seu considerável tamanho, fato que chegou a espantar algumas pessoas para as
quais o mostrei, outra foram os “extras” contidos no livro (um mapa de
Westeros, região na qual se passa parte da história, e um apêndice que consiste
na listagem dos membros das sete grandes casas, famílias nobres, de Westeros e
um pouco de suas histórias). A grande quantidade de personagens algumas vezes
poderá deixar os leitores um pouco perdidos, mas recorrer à consulta das listas
das casas ajuda muito a retomar o fio da meada, todavia a abundância de nomes
não torna a leitura um caminho tão tortuoso à ponto de ser uma mazela.
A amplitude deste cenário é um dos motivos que
fez eu me apaixonar com poucas páginas. O tamanho farto do livro, fato com o
qual já estou acostumado considerando que sou leitor de Stephen King, em
primeira instância me fez deduzir que o detalhismos colossal, algo bastante
semelhante à Tolkien, fosse marca registrada na obra de George R. R. Martin
igualmente, contudo, apesar dos ambientes serem descritos com maestria, as
descrições não chegam à um nível que faz o enredo fluir mais lentamente e
talvez causar alguns bocejos. Isso já foi um grande ponto positivo à favor de
George, afinal quando um autor decidi explorar demais as minúcias do que
pretende narrar deve ter muito cuidado, pois detalhismos demais podem soar como
a famosa “encheção de linguiça”, falando no popular.
Outra
singularidade em “Guerra dos Tronos” é que apesar de ser classificado como um
livro de fantasia, o próprio elemento fantasia é muito subentendido na trama, a
sutileza com que é tratado nos faz indagar quais pontos são fatos e quais
pontos são somente lendas. O grande mistério fica a cargo dos Outros, uma tribo
de selvagens cercados de mistérios que vive para além da muralha ao norte de
Westeros na Floresta Assombrada. Alguns contam que Os Outros são criaturas
sobrenaturais, mais frias que a própria neve e que jamais podem ser refreadas
pelas armas dos homens. A única coisa capaz de derrotar Os Outros, segundo
contam os mais velhos, é a magia dos Filhos das Florestas, seres que utilizavam
a magia em seu cotidiano de maneira tão natural como bebemos um copo d’água e
que habitaram Westeros antes da chegada dos Ândalos, povo que os levou à
extinção. Mas vale lembrar que a todo momento somos defrontados com várias
versões sobre um mesmo fato e poucas são as respostas sobre o que é verídico
nesse emaranhado de palavras, o que nos mantém sempre querendo virar mais e
mais páginas e ao terminarmos o primeiro livro querer já partir para o
seguinte.
George R. R. Martin |
A
história fala essencialmente de jogos políticos, logo algumas pessoas mais
ávidas por batalhas grandiosas podem ficar um pouco desanimadas com uma grande
parte do livro, mas isso não significa que não se encontrará instantes que nos
farão ficar com a adrenalina circulando em nosso sangue, os olhos esbugalhados
e a mente hipnotizada, assim como amam os fãs de literatura épica.
Como
mencionei anteriormente “Guerra dos Tronos” fala essencialmente sobre jogos
políticos, portanto os leitores não irão encontrar nessas páginas um mundo
maniqueísta, com divisórias claras entre o certo e o errado, o bem e o mal,
afinal no jogo dos tronos o que faz todos estes conceitos é a necessidade e a
ligação com a sua casa (família). O personagem que mais salienta esta questão é
Tyrion Lannister, um anão, chamado de Duende entre os populares e a corte,
membro da casa Lannister. Tyrion é o tipo de personagem com diálogos
excepcionais e um caráter indefinido, mas que conquista a todos pela sua
sagacidade e humor ácido que zomba dos nobres e deste jogo de poder. Tyrion é
um personagem em que confiaríamos de boa vontade, caso nossa vida pudesse
depender dele, contudo às vezes o encaramos de esguelha e suspeitamos de suas
intenções mais intimas. Nesse ponto é que está uma grande diferença entre o
estilo de George e Tolkien. Quero tocar neste ponto porque diversas pessoas
parecem ter pegado o péssimo hábito de brigar entre quem é melhor: Tolkien ou
George? Já vi discussões acaloradas até demais acerca disso, o que acho
completamente desnecessário, uma vez que Tolkien e George são mundos totalmente
diferentes. Enquanto em Tolkien a aventura, o herói épico, o embate de forças
do bem contra entidades maléficas são elementos exaltados a cada página e o
detalhismos chega ao extremo da atividade de escrever em George os personagens
são mais próximos do palpável em suas imperfeições de caráter, em suas
motivações egoísticas, em suas lutas pelo poder. A terra-média é um lugar que
apesar de suas zonas sombrias é predominantemente um lugar de luzes,
exuberância de vida, afloramento de coisas boas. Já em Westeros e nas demais
terras traçadas por George as sombras parecem querer englobar todas as coisas,
confiar pode significar a sua cabeça rolando e segredos são protegidos a
qualquer custo. Mesmo que para isso seja preciso matar uma criança, por
exemplo. Ser cruel é chamado de ser justo. Isso, obviamente, torna alguns
personagens extremamente odiáveis! Ao ponto de querermos saltar para dentro das
páginas e darmos alguns socos e chutes para aliviar a raiva.
A
estrutura do livro em curtos capítulos que alternam entre os personagens/narradores
me chamou a atenção. Em um livro tão grande capítulos curtos fazem a leitura
avançar a passos de gigante e a variação na perspectiva pela qual visitamos
este mundo nos proporciona um leque muito bom a partir do qual somos capazes de
formular nossos próprios pensamentos e estabelecer nossos pesos de valores,
além de que o sortimento de personalidades tão distintas quanto às cores
existentes nos deixa sempre ansiosos por retomar a conversa com aquela pessoa
que se desviou de nós alguns capítulos atrás.
Os
eventos que ocorrem no primeiro livro são preparações para o palco dos próximos
livros. O final confirma ainda mais que nem tudo que se conta sobre as antigas
lendas é verdade e deixa uma promessa para os próximos livros. Os perigos nas últimas
páginas se anunciam de todas as direções e em meio ao jogo dos tronos e o
presságio negro cujo inverno é o arauto nos cabe perguntar: Quando a morte
chega de todas as direções o que devemos fazer? Numa terra corrompida pelo que
lutamos? Eis alguns dos questionamentos suscitados por essa crônica composta de
tipos humanos de índole verdadeiramente nobre à homens e mulheres que mais
parecem ratos e animais carniceiros com um manto bonito que esconde suas
verdadeiras faces.
Não
considero e nem pretendo executar a titânica tarefa de mostrar todo o esplendor
do livro em minha resenha, algumas coisas são tão grandiosas que não há como
repassar a experiência que tivemos em palavras frias escritas, acho que nem
mesmo com nossas vozes podemos expressar algumas coisas de uma ponta à outra,
mas espero sinceramente que vocês possam ter o mesmo prazer que tive ao dar meus
primeiros passos na obra de George R. R. Martin. Desejo-lhes uma excelente
leitura e agradeço antecipadamente pelos comentários. A maior recompensa para
quem escreve uma resenha é despertar o desejo de conhecer de pelo menos um
leitor . Outra observação, possivelmente alguns de vocês podem estar se
pensando: Mas ele nem falou direito dos personagens. Eu fiz isso porque estou
tentando desenvolver sempre resenhas que falem mais das qualidades do texto,
recursos da narração, atmosfera da história do que dos personagens em si, pois
se sair falando sobre os personagens de um jeito ou outro acabarei dizendo
alguns spoilers. Abraços!
Informações técnicas:
Informações técnicas:
Editora: Leya
Autor: George R. R. Martin
Origem: Americana
Ano: 2010
Edição: 1
Número de páginas: 592
Acabamento: Brochura
Formato: Médio
Ed, mto boa sua resenha! Não li o livro ainda, mas vi a série que é tb mto boa. Vc conseguiu extrair a essência do livro sem entrar mto nos personagens. É um livro mto complexo e falar sobre cada família seria desgastante, o melhor é ler e amá-las e odiá-las. Parabéns!
ResponderExcluirAh, só uma coisa, pq está como origem Nacional?
ExcluirA complexidade deste primeiro livro de George R.R. Martin é surpreendente. As intrigas, jogos políticos, traições e as personalidades atribuídas a cada personagens dão força à trama, dando ao leitor o incentivo para prosseguir na leitura.
ResponderExcluirQuanto à origem, creio que houve um equívoco, mas corrijo assim que o Ed confirmar.
Olha eu precisava ler uma resenha pra captar melhor alguns pontos e a sua foi primordial. Eu até já assisti alguns capítulos da série, mas não fui até o fim pra não tirar a graça da leitura. E justamente por ser um livro extenso, tive medo de ter detalhes em excesso e eu acabar abandonando o livro. Mas agora definitivamente posso comprar, e investir numa longa viagem,porque pelo que estive lendo sobre a saga serão ao todo 7 volumes.
ResponderExcluirhttp://leiturasdepaty.blogspot.com/
Realmente a resenha é esclarecedora sem apelar para spoilers, Paty. O Ed sabe como trabalhar nesta área e sua ajuda está incentivando muitos leitores. Obrigado pelo commment.
ExcluirFranz.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuito bom o texto! Eu amo a literatura George R. R. Martin! ❤️ Ninguém pode negar definitivamente o sucesso do Game of Thrones. Estou surpreso toda a produção por trás da série. No começo eu não estava convencido de que ela, mas como a história progrediu, eu realmente se tornou um fã. Eu acho que todo o elenco tem feito um grande trabalho, é uma das minhas séries favoritas, tem uma grande história!
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