O autor H. G. Wells defendeu em suas obras o aprimoramento genético da raça humana
O inglês H. G. Wells (1866-1946) ficou famoso com A Guerra dos Mundos
e A Máquina do Tempo, dois clássicos da ficção científica. Mas, quando
imaginava o futuro olhando para o seu redor, o resultado soava
assustador. Em dois de seus livros, Anticipations (1901) e The Open
Conspiracy (1928), ele trata da Nova República, uma visão notoriamente
racista sobre a humanidade.
"De que modo a Nova República tratará
as raças inferiores? Como ela lidará com os negros? E com os judeus?
Com esses enxames de pessoas de pele negra, marrom, branco-escura e
amarela, que não se ajustam aos novos requisitos de eficiência? Ora, o
mundo não é uma instituição de caridade, e eu assumo que não há lugar
para eles", registrou o escritor, exercitando uma faceta pouco
conhecida: a de defensor da eugenia*, o suposto aprimoramento genético da
espécie humana. Segundo Robert Schnakenberg, no livro A Vida Secreta
dos Grandes Autores, "sua eterna fascinação pela eugenia representou o
lado sombrio de sua visão futurista, tingida por um pouco mais que uma
simples mancha de ódio pelos judeus".
No início do século
passado, a defesa da eugenia não era uma prática condenada. Ela foi
desacreditada quando os nazistas se apropriaram de seus princípios da
forma como se sabe. "As declarações de Wells sobre raças inferiores se
aproximam perigosamente dos esforços de Hitler para criar uma raça
ariana", escreveu Martin Gardner na introdução da edição de
Anticipations, em 1999. Curiosamente, Wells era socialista e inimigo dos
nazistas.
Por aqui, Monteiro Lobato flertou com a eugenia em seu
livro O Presidente Negro (que fala de um negro presidente dos EUA, que
ironia). "Acontecem coisas tremendas, mas vence por fim a inteligência
do branco", escreveu o criador de Emília ao amigo Godofredo Rangel.
* Abaixo segue um esclarecimento sobre o que é eugenia com base no trabalho do professor José Roberto Goldim. Texto coletado do site da UFRGS. Leiam com atenção e vejam os malefícios desta teoria extremamente racista e preconceituosa:
Ao longo da história da humanidade, vários povos, tais como os gregos,
celtas, fueginos (indigenas sul-americanos), eliminavam as pessoas
deficientes, as mal-formadas ou as muito doentes.
O termo Eugenia foi criado por Francis Galton (1822-1911), que o definiu como:
O estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou
empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja fisica ou
mentalmente.
Galton publicou, em 1865, um livro "Hereditary Talent and Genius" onde
defende a idéia de que a inteligência é predominantemente herdada e não
fruto da ação ambiental. Parte destas conclusões ele obteve estudando
177 biografias, muitas de sua própria família.
Galton era parente de Charles Darwin (1809-1882). Erasmus Darwin era avô
de ambos, porém com esposas diferentes, Darwin descendeu da primeira,
por parte de pai, e Galton da segunda, por parte de mãe. Darwin havia
publicado "A Origem das Espécies" em 1858.
No seu livro, Galton propunha que "as forças cegas da seleção
natural, como agente propulsor do progresso, devem ser substituidas por
uma seleção consciente e os homens devem usar todos os conhecimentos
adquiridos pelo estudo e o processo da evolução nos tempos passados, a
fim de promover o progresso físico e moral no futuro".
O argentino José Ingenieros publicou, em 1900, um texto, posteriormente
divulgado como um livro, denominado "La simulación en la lucha por la
vida". Neste texto incluem-se algumas considerações eugênicas, tais
como:
"Por acaso, os homens do futuro, educando seus sentimentos
dentro de uma moral que reflita os verdadeiros interesses da espécie,
possam tender até uma medicina superior, seletiva; o cálculo sereno
desvanecería uma falsa educação sentimental, que contribui para a
conservação dos degenerados, com sérios prejuízos para a espécie".
Em 1908, foi fundada a "Eugenics Society" em Londres, primeira
organização a defender estas idéias de forma organizada e ostensiva. Um
de seus líderes era Leonard Darwin (1850-1943), oitavo dos dez filhos de
Charles Darwin. Ele era militar e engenheiro. Em vários países europeus
(Alemanha, França, Dinamarca, Tchecoslováquia, Hungria, Áustria,
Bélgica, Suiça e União Soviética, dentre outros) e americanos (Estados
Unidos, Brasil, Argentina, Perú) proliferaram sociedades semelhantes.
Segundo Oliveira, a Sociedade Paulista de Eugenia, foi a primeira do Brasil, tendo sido fundada em 1918.
Na edição de 1920, Ingenieros ressaltou, em nota de rodapé, que as suas
opiniões haviam sido confirmadas pela rápida difusão das idéias
eugenistas em diferentes partes do mundo.
O 1º Congresso Brasileiro de Eugenismo foi realizado no Rio de Janeiro,
em 1929. Um dos temas abordado era "O Problema Eugênico da Migração". O
Boletim de Eugenismo propunha a exclusão de todas as imigrações
não-brancas. Em março de 1931 foi criada a Comissão Central de
Eugenismo, sendo o seu presidente Renato Kehl e o Prof. Belisário Pena
um dos membros da diretoria. Os objetivos desta Comissão eram os
seguintes:
- manter o interesse do estudo de questões eugenistas no país;
- difundir o ideal de regeneração física, psíquica e moral do homem;
- prestigiar e auxiliar as iniciativas científicas ou humanitárias de caráter eugenista que sejam dignas de consideração.
Em vários países foram propostas políticas de "higiene ou profilaxia
social", com o intuito de impedir a procriação de pessoas portadoras de
doenças tidas como hereditárias e até mesmo de eliminar os portadores de
problemas físicos ou mentais incapacitantes.
Jiménez de Asúa defendeu a idéia de que as políticas alemã, italiana e
espanhola nesta área não eram eugenistas, mas sim "racismo" oriundo do
nacional-socialismo alemão. Vale lembrar que as idéias alemãs se
originaram do trabalho do Conde de Gobineau - "Ensaio sobre a
desigualdade das raças humanas" - publicado em 1854. Antes, portanto,
das idéias darwinistas terem sido divulgadas e do termo Eugenia ter sido
criado. O Conde de Gobineau esteve no Brasil, onde coletou dados. Neste
ensaio foi feita a proposta da superioridade da "raça ariana",
posteriormente levada a extremo pelos teóricos do nazismo Günther e
Rosenberg nos anos de 1920 a 1937. Outro autor alemão, Gauch, afirmava
que havia menos diferenças anatômicas e hsitológicas entre o homem e os
animais, do que as verificadas entre um nórdico (ariano) e as demais
"raças". Isto acabou sendo objeto de legislação em 1935, através das " Leis de Nuremberg",
que proibiam o casamento e o contato sexual de alemães com judeus, o
casamento de pessoas com transtornos mentais, doenças contagiosas ou
hereditárias. Para casar era preciso obter um certificado de saúde. Em
1933 já haviam sido publicadas as leis que propunham a esterilização de
pessoas com problemas hereditários e a castração dos delinquentes
sexuais.
Jiménez de Asúa propunha que a Eugenia deveria se ocupar de três grandes
grupos de problemas: a obtenção de uma descendência saudável
(profilaxia), a consecução de matromônios eugênicos (realização) e a
paternidade e maternidade consciente (perfeição).
- A profilaxia seria obtida através de ações tais como: combate
às doenças venéreas, prostituição e pela caracterização do delito de
contágio venéreo.
- A realização ocorreria através da casais eugênicos e do reconhecimento médico pré-matrimonial.
- A perfeição proporia meios para que fosse possível a limitação da natalidade, os meios anticoncepcionais, a esterilização, o aborto e a eutanásia.
Com o desenvolvimento das modernas técnicas de diagnóstico genético, do
debate sobre os temas do aborto, da eutanásia e da repercussão da
epidemia de AIDS, muitas destas idéias são discutidas com base em
pressupostos eugênicos, sem que este referencial seja explicitamente
referido.
Já ouvi falar de um claro preconceito contra negros presente nos livros de Monteiro Lobato. Para a época era perfeitamente natural tratar os negros como uma raça inferior. Hoje o ser humano evoluiu um pouco nesse processo, mas ainda existe muitas pessoas que pensam dessa maneira.
ResponderExcluirE como existem Priscila...por essas semanas mesmo fui peguei um ônibus e fui sentar no único assento vago que tinha, o homem ao lado me olhou com uma expressão de poucos amigos se você me entende. O homem era branco, loiro, olhos azuis. Eu nem falei nada porque não tava afim de gastar minha paciência.
ResponderExcluirContra o preconceito, nada melhor do que fazer o que já lhe é peculiar, Ed: mostrar que é inteligente, capaz e, acima de tudo, superior a atos imbecis como desprezar alguém pela cor. A cor da pele não indica caráter, índole ou competência. O sucesso de pessoas como nós, que sairam de um limbo provocado pela desigualdade social, pela cor da pele ou simplesmente por não nos encaixarmos com os modelos de comportamento e atitude "ideais", é a resposta ideal a olhares como o do "ariano" que o encarou.
ResponderExcluirOs pensamentos racistas ainda estão disfarçados. As pessoas querem ser politicamente corretas, porém ainda estão maculadas pelo temor, ódio ou seja lá o que for contra quem não está dentro de seus padrões.
Mas, se Deus quiser, isto um dia acabará...